quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Cleópatra, a rainha ruiva



Estréia amanhã 'Antônio e Cleópatra', versão estrelada por Maria Padilha do clássico de William 
Shakespeare

Esqueça o cabelinho preto, cortado na altura do queixo. A Cleópatra de Maria Padilha é ruiva, de pele branca, características que ela descobriu escondidas no meio dos livros de história. É assim, com fios levemente acobreados, que ela aparece amanhã em Antônio e Cleópatra, clássico de William Shakespeare. A própria atriz é quem desfaz o mal entendido: 'Cleópatra era grega. Nas imagens da Renascença, por exemplo, aparece loura. A visão que temos da rainha do Egito é uma fantasia do que se vê nas pirâmides, onde ela aparece fantasiada como a deusa Ísis. Aquilo era uma peruca', conta. Em entrevista ao JT, Maria fala sobre o prazer de voltar aos palcos paulistanos após sete anos de ausência e manda um aviso para os noveleiros de plantão: 'Não vou atuar em TV tão cedo.'

JT - Recentemente, Alessandra Negrini interpretou Cleópatra também. Com tantas versões para uma mesma mulher, como compor a sua?
Nosso cenário não tem pirâmides, também não mostramos o Coliseu em Roma. Nas peças de Shakespeare, o cenário é preenchido com palavras. E isso se aplica também aos personagens. A Cleópatra de Shakespeare é peculiar, é completamente diferente da Cleópatra de Júlio Bressane, vivida pela Alessandra. Quando a peça começa, Cleópatra já tem 38 anos e até reclama de rugas. Shakespeare optou por mostrar o amor maduro entre ela e Marco Antônio ( interpretado por Adriano Garib). Episódios clássicos, como o de Brutus, aconteceram antes, não são mostrados.

Esse recorte peculiar de Shakespeare não acaba banindo fatos importantes?
Shakespeare não ambicionava fazer reconstruções históricas. Como seria possível retratar com exatidão coisas das quais não se tem registros precisos? Seria uma armadilha. Shakespeare prioriza a alma humana, mostra a dificuldade que é viver uma paixão quando se tem muito a perder. Marco Antônio e Cleópatra eram o homem e a mulher mais poderosos de seu tempo, tinham filhos, não era tão fácil jogar tudo para o alto. Apesar da densidade, o texto é engraçado. Tragédia e comédia caminham juntas.

Você é conhecida por causa da TV, mas tem mais peças do que novelas no currículo. Qual é seu foco hoje?
Dei um tempo na TV. Minha última novela foi Mulheres Apaixonadas, que tem três anos ... Não é que eu queira deixar as novelas para sempre, mas já fiz muitas nos anos 90. Decorar capítulo todo dia não é fácil. Gosto de estudar, sou aplicada. Se você me perguntasse sobre TV no início da carreira, eu diria: 'odeio novela'. Sofri muito em Água Viva (de 1980), era minha estréia. Levei um susto. Achava tudo rápido, aquilo não me seduzia. Queria ensaiar, sabe?

Hoje, 17 programas depois, se rendeu?
Aprendi que precisava ter mais jogo de cintura para fazer TV. Novela é como jornal: descartável. A notícia pode ser ótima, mas no dia seguinte está embrulhando peixe. Capítulo de novela pode ser excelente,mas no dia seguinte tem outro. Um dia percebi que esses defeitos da TV poderiam virar qualidades. Descobri que poder me comunicar com Amapá, Rondônia ou qualquer subúrbio era fantástico. Perdi a birra.

Já popular na TV, aceitou posar nua para custear uma peça em 1994. Isso foi uma declaração de amor ao teatro?
Foi uma manifestação de desespero! (risos). A peça estava toda pronta, era A Falecida, de Nelson Rodrigues. Dias antes da estréia, o patrocinador desistiu da gente. Um amigo me sugeriu posar nua para conseguir o dinheiro e fui à luta. Liguei para Juca Kfouri, que na época estava na Playboy, e acertei meu cachê diretamente com ele. Não me arrependo, eu estava obcecada para montar a peça. Hoje, não sei se teria compulsão tão grande por algum projeto a ponto de tirar a roupa para pagá-lo.




(SERVIÇO)Antônio e Cleópatra.
Peça de Willian Shakespeare, com direção e adaptação de Paulo José.
Teatro Sesc Vila Mariana (Rua Pelotas, 141. Tel.: 5080-3000). Sextas e sábados, às 21h. Domingo, às 18h. Ingressos: de R$ 10 a R$ 30. Censura: 12 anos





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